01 fevereiro 2010

O que nos faz agir?

O que nos faz agir? Como e onde podemos estabelecer o espaço do que é público? Qual o demos que irá agir na política? Será a cidadania apenas um modo de legitimar os governos por meio de eleições, mas incapaz de incluir o indivíduo na ação política? As questões iniciais deste texto não se esgotam nos aspectos gerais da teoria da ação política em Hannah Arendt. Não obstante, podemos dizer que tais indagações constituem pequenas provocações, para pensarmos e para agirmos na elaboração de uma sociedade com a marca do respeito à espontaneidade e à liberdade.
O interesse da filosofia política de Arendt é o mundo humano, o artifício que homens e mulheres constróem com o objetivo de reconciliarem suas existências no espaço comum, no qual se comunicam e interagem. Na impossibilidade de viver a política, ou seja, estar privado da presença e do diálogo com seus pares, tal como ocorria na Alemanha dos anos 30, Arendt reflete sobre a dissociação entre o que a tradição do pensamento ocidental elaborava, enquanto compreensão do mundo, e a realidade radical da experiência por ela vivida. A reflexão sobre como nossas ações políticas se dão, ou podem acontecer, influenciadas pelo mundo em comum partilhado com os outros, leva-nos a imaginar um percurso que possa subverter a velha submissão do pensamento a uma razão política dissociada da realidade.
O fenômeno da despolitização de nossas sociedades constitui-se, para a filósofa alemã Hannah Arendt, uma de suas principais preocupações, pois indica um rompimento do homem com sua capacidade de discernir critérios e referências de convivência que permita a cada um comunicar-se com todos os demais e agir em presença da pluralidade humana.

Trecho de edição da Revista Discutindo Filosofia, ano 2, n. 7, fevereiro de 2007.